domingo, 1 de agosto de 2010

inchocável?

     Vivemos em uma sociedade saturada. Saturada de referências, entupida de todo tipo de criação imaginável. Dessa forma, toda criação se torna obsoleta no momento que perde seu valor de singularidade. Nada mais é único, tudo já foi feito e refeito milhões de vezes, nada soa novo. Estamos na constante reprodução e reconfiguração das mesmas milhões de coisas já criadas. É o que dá a impressão pelo menos. E parece também que tudo virou produto. Tudo é descartável porque virou produto, foi transformado em produto pelo mainstream. Tudo foi e é incorporado ao sistema, se tornando mecanismo de lucro. Tudo é comprável e nada ameaça a ordem, só continua contribuindo para a lógica do consumo a que estamos submetidos.
     Aquilo que surgiu como manifestação artistica ou subversiva ou política ou de qualquer outra natureza vira um commodity. Aquilo perde seu sentido original e só o mantém simbolicamente, passando a ser algo que gera capital. É atrativo pelo que representa simbolicamente, pelo seu significado perdido que teoricamente se mantém, porque se mantém no imaginário, como uma idéia vendável. Atitudes e formas de pensar são consumíveis, são compradas apenas em imagem e quem compra fica com a imagem que está tomando atitude - só com a imagem e sem atitude alguma. A pessoa fica com a imagem de que está sendo crítico ou rebelde, quando na verdade supre o sistema comprando pra si a falsa imagem de que é crítico ou rebelde. Ser contra o sistema já se incorporou ao sistema.
     Elvis costumava chocar e quebrar padrões. O punk chacoalhou o estabilishment de jeito. Hoje os dois alimentam o sistema. Os sentidos são perdidos e tudo é banalizado. Nada mais choca, porque tudo virou produto inofensivo. Aquilo que gerava estranhamento não mais o gera. O estranhamento deixa de estranhar e passa a vender como algo que estranha - só que não estranha mais. E essa constante coisificação gera medo. O medo de que o sistema se torne inquebrável, pois tudo que vem contra ele ele tira o sentido original e incorpora como produto vendável. Há também o medo trazido por essa constante perda de sentido. Deixamos de pensar para apenas consumir. Com isso só cresce o vazio gerado pelos produtos sem sentido. Nossa identidade e o significado que tinha nossa cultura parecem se perder ao serem substituidos por uma cultura de consumo do oco de significado. Nós acabamos se perdendo também. Ficamos sem base alguma aonde se suportar, sem sentido para si e para a vida. Sem sentido e presos em um sistema indestrutível. É para aí que parece que estamos caminhando.
     Parece que nada mais choca o sistema, nada mais consegue criticar e apontar os problemas. As várias formas de crítica também já se incorporaram e perderam sua força. Novas formas poderão ser criadas ou todas já foram criadas? E, se criadas, essas novas formas também não se incorporarão? É algo para se pensar.
     Para onde estamos caminhando? Banalização generalizada? Um vazio angustiante? Há como mudar essa direção? Há como criar novas formas de choque ou reciclar as antigas? O que ainda tem sentido hoje? O que tem sentido pra você?

uma ação

     Fiquei um bom tempo sem postar. Não foi porque eu tava sem tempo. Não sei bem porque foi. Não sei se foi porque não havia sobre o que escrever. Não sei se porque cheguei em um ponto em que não via mais sentido em escrever, em que parecia que tudo já havia sido dito. Mas a verdade é que tudo nunca será dito. Há sempre algo para dizer. Porque nada é simples. O mundo é complexo e dinâmico, em constante mutação de sua imperfeição. Há o que escrever. Mas há motivo para fazê-lo? Cada ação faz uma diferença. Se ninguém tomasse iniciativa, nada aconteceria. Não importa o que seja, devemos fazer. Porque nós somos capazes de modificar e alterar as coisas, basta fazermos algo para tanto. Algo simples como escrever o que passa na nossa mente e criticar o que vê de errado, tentando entender. Por isso hoje estou postando. Porque quero fazer essa diferença.  Devemos buscar fazê-la de alguma forma. Com qualquer ação. É bom em algo? Vai lá e faz. Você pode não enxergar a diferença que está fazendo. Ela a maioria das vezes é invisível ou às vezes visível mas tão insignificante que parece não importar, mas ela existe e ela importa. Pode ser só a longo prazo ou somada com muitas outras ações. Geralmente a soma de pequenas ações é que faz aquela diferença significativa. E essa diferença só existiu porque houveram as pequenas ações que se somaram. A pequena ação sozinha parecia impotente, inofensiva. Porém, ela se uniu às muitas outras e realmente mudou algo. Quem as fez não viu isso e não tinha como prever essa soma, mas essas pessoas acreditaram que de alguma forma sua ação pequeninina alteraria algo. É preciso acreditar em si. Acreditar em si e nos outros. Tem muita gente querendo fazer algo realmente bom pro mundo. Seja uma dessas pessoas. Faça o que você faz de melhor no sentido de melhorar o mundo em qualquer escala que seja. Quanto mais ações melhor. Se você não fizer, ninguém fará por você. DIY.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Welcome to 1984: a mídia e as redes sociais

    1984 é um livro genial! Li ele há alguns anos atrás e, quanto mais reflito sobre a sociedade que vivemos, mais enxergo as palavras de Orwell. O cara foi um profeta e, se o mundo não está tão errado agora quanto ele previu é porque ele foi um dos que alertou sobre o futuro e incentivou iniciativas de contrapartida. A realidade do livro é uma realidade de pessoas alienadas e sob eterna vigília, cultuando a imagem do homem que governa o mundo: o famoso Grande Irmão - muito popularizado pelo programa de tv Big Brother (muito alienante rss). A história e os fatos cotidianos são totalmente e deliberadamente deformados, mudados e refeitos para depois irem para os ouvidos do povo pelas tele-telas, espécies de tvs que também filmam e encontram-se nas casas de todo mundo e espalhadas pelas ruas. Não vou contar muito mais, mas só tenho a dizer que a lavagem cerebral feita no livro é insana e recomendo que todo mundo leia! É um livro de ficção pra se ler antes de morrer e de uma sagacidade inquestionável!
     Monitorados e alienados por mentiras dadas como verdades, sujeitos a trabalhos dos quais desconhecem a utilidade, a privacidade e a liberdade inexiste no livro. No mundo atual, como já cansei de falar, somos alienados pela grande mídia, que passam os fatos de forma parcial e tendenciosa sem dar espaço para reflexão. Absorvemos programas de tv, rádio, noticias dos diversos meios - até do mainstream dentro da internet, que se sobressae em relação às fontes independentes, pouco consultadas pela maioria - vazios de significado e conservam nossa mentalidade consumista e escondem o cruel sistema ao qual estamos sujeitos. A informação é monopolizada e nos vendem um ponto de vista único como verdade absoluta. Dessa forma, assim como no livro de George Orwell, somos alienados da realidade e seguimos alimentando um sistema que desconhecemos e suprindo os desejos da minoria e  o sofrimento de uma maioria. O comportamento é padronizado, nossa liberdade de pensar é cortada pelos meios de comunicação de grande porte - e quem não pensa não consegue expressar opinião, visão de mundo própria. Viramos alienados como no livro. Até aí, Orwell acertou na mosca. Mas quanto a sermos vigiados o tempo inteiro? As pessoas no livro 1984 têm suas vidas pessoais expostas. Nós não temos câmeras em casa, não somos então teiricamente vigiados pelos que estão no poder. Claro, há um certo controle de nossas ações pelo governo - como quando saímos do país ou quando somos presos por cometer ilegalidades - e por empresas - como transações de contas em banco. Mas no livro absolotamente tudo que a pessoa fazia estava exposto. Até outro dia eu acreditava que com a nossa sociedade isso era diferente. Isso foi até outro dia.
       O Facebook já provou o contrário. Estamos compartilhando nossas vidas pela internet. Expontaneamente, expomos todo dia nossa localização, nossos gostos, nossas atividades, nossos amigos, nosso cotidiano em fotos e textos para qualquer um ver. Disponibilizamos em escala global o que é pessoal e íntimo . O monitoramento e o controle das pessoas pelo governo, pelas grandes empresas fica muito fácil. A alienação e a lavagem cerebral se tornam muito mais eficientes quando se conhece a fundo o alvo a ser manipulado. As redes sociais mostram uma função extremamente negativa: nos colocar sob vigilância. Somos facilmente transformados em gráficos e estatísticas, que permitem a quem desejar nos atingir nos nossos pontos fracos. Toda essa informação antigamente privada passa a ser veículada mundialmente e pode ser usada para os mais variados fins. Que tele-tela que nada. Nós mesmos estamos nos colocando sob monitoramento. Tweetamos cada passo nosso porque isso se tornou "moda" e é como se cada passo nosso estivesse sendo filmado. Liberdade é escravidão.

O video a seguir é a primeira parte de uma música do Anti-Flag chamada "Welcome to 1984", que aborda a guerra com enfoque no imperialismo norte-americano. No livro 1984, a guerra é bem interessante, ela é passada como necessária para o povo quando na verdade é simplesmente lucrativa e por isso infinita - não há real conflito ideológico. Se assemelha bastante às guerras atuais travadas pelos EUA, como abordei no post "a guerra e o dinheiro". E é essa a crítica da banda. Escutem!
     


       É, dá pra ver que, mais que nunca, estamos vivendo o futuro proposto pelo livro. Ter consciência disso é um primeiro passo para driblar a alienação e a mentalidade materialista incrustrada. Revolucione-se para revolucionar o mundo! Vivemos sob controle e a reflexão é o caminho para se libertar. A reflexão e a ação. Mas, por ora...Welcome to 1984.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Criatividade, ativismo & internet

      Já defini aqui no blog que acredito no espirito DIY (Do It Yourself - Faça Você Mesmo) como o grande mecanismo modificador e revolucionador da realidade. Iniciativas de pessoas que querem um mundo melhor são o caminho para um mundo melhor. Só nós podemos mudar o mundo, porque o mundo é movido pelas pessoas e ninguém mais. E a forma mais eficaz de se mudar o mundo é pensando fora dos padrões - questionando e inovando - e mobilizando as pessoas. Sair da caixa é o primeiro passo, perceber um outro mundo possível, uma outra forma de pensamento e organização - e buscar caminhos para alcançá-la. Cada pessoa têm capacidade de intervir e influenciar no caminho que a sociedade segue, somos todos integrantes ativos e pensantes dela. E é na união das pessoas que se têm uma influência realmente significativa a ponto de enfrentar o estabilishment e bater de frente com o que hoje é status quo.
      Não é uma tarefa fácil. Longe disso, é um processo complexo, que requer dedicação e, antes de tudo, coragem e criatividade. Mas diante de um mundo tão errado, nada mais certo que tentar mudá-lo - fazê-lo menos errado. Iniciativas desse calibre já existem e pego como exemplo aqui o Punkvoter. É um exemplo que acabou falhando no seu objetivo principal, mas que eu acho uma iniciativa bastante interessante e um ótimo modelo de mobilização. Fat Mike Burkett, vocalista do NOFX [que eu vi ao vivo no show deles março! aee rs] e ativista, foi o responsável por moblizar uma quantidade gigante de jovens relacionados de alguma maneira com o movimento punk - desde bandas independentes até bandas de grandes gravadoras - para votar contra George W. Bush nas eleições de 2004. Recrutou todos que conseguiu das mais diferentes vertentes de punk rock e conseguiu mais de 100 mil jovens inscritos no grupo. E não foi apenas um grupo para derrotar Bush que foi criado, mas uma forma de inclusão social educadora e incentivadora de jovens politicamente ativos - preocupados com o futuro do país.
    Infelizmente, Bush ganhou a eleição. Apesar do gigantesco movimento no qual se tornou o Punkvoter, não foi suficiente para vencer a eleição. Mas iniciativas como essas são essenciais porque sem elas as chances de se vencer Bush iam ser ainda menores, quase nulas, e a Punkvoter foi eficiente no sentido de educar e incluir jovens, como falei antes - que já é um ponto essencial para uma real mudança. Istoé, pode não ter derrotado Bush, mas fez muito pela sociedade mesmo assim - abrir a mente das pessoas já é um grande passo. Quaisquer que sejam, iniciativas positivas são essenciais! Agora, por que Bush não foi derrotado? Na minha opinião, foi porque, apesar da beleza da iniciativa, o Punkvoter foi muito limitado, abrangeu apenas um campo limitado de gente - só os dentro de alguma forma do movimento punk. Essa limitação não é culpa de Mike ou de ninguém, mas é apenas consequência de viver na sociedade que a gente vive. Mike tentou alcançar o mais amplo campo de pessoas possível, mas não foi suficiente, porque a sociedade está fragmentada em grupos com diferentes interesses que não se relacionam entre si. Mike já quebrou milhares de barreiras - pois o próprio movimento punk é super dividido. E ainda mais e mais e mais barreiras precisam ser quebradas para se alcançar um coletivo realmente unido e disposto a mudar a realidade. Uma tarefa monstruosa.
     Como quebrar tantas barreiras? Aí entra a criatividade de novo. Como unir as pessoas? É necessário encontrar um objetivo em comum, um fim que todos almejem. O mundo melhor seria um fim que a maioria almeja, se tirarmos dela as vendas colocadas pela mídia. Mas.... mundo melhor? Que conceito mais abstrato! O que exatamente é isso? As pessoas enxergam realmente o que há de errado com o mundo? Necessitamos perceber que tudo está interligado, que todos os problemas têm um único motivo: o sistema desigual e materialista em que vivemos. Cada grupo tem seus problemas e todos esses problemas são fruto da lógica que rege o mundo hoje. Percebendo isso, temos um fim comum. Todos querem acabar com seus problemas, logo todos querem a mesma coisa: quebrar com essa lógica injusta.
     Para Noam Chomsky, o ativismo é o caminho para ligar os pontos e perceber que tudo é fruto de uma única lógica."Se você voltar aos anos 60, os movimentos dos Direitos Civis e da Guerra do Vietnã começaram de maneira muito focada. 'Deveria ser permitido que negros pudessem andar de ônibus' e 'Nós não devemos mandar tropas para o Vietnã'. Essas são questões específicas muito estreitas - ainda que muito importantes. Mas dentro de alguns anos, se tornou um esforço para ganhar um entedimento crítico da maneira como todo o sistema econômico internacional e o sistema internos nos Estados Unidos funcionavam", disse Chomsky em entrevista à Punk Planet em 2000. Vemos claro aí que, na visão dele, primeiro as pessoas percebem os problemas e exigem sua solução, para depois entender que todos os problemas são fruto de como roda o sistema e daí surgir os gigantescos movimentos que realmente mudarão eficientemente a realidade, como foram os dois movimentos citados por Chomsky.

     Uma importante ferramenta de integração das pessoas que vejo hoje é a internet. A internet virou um espaço ideal para a manifestação livre de idéias e também para a discussão. Existem já vários blogs independentes, canais de videos no You Tube e comunidades virtuais. Os blogs são essenciais para que cada um possa expor sua visão de mundo e podem ser usados na contramão da ação da grande mídia, que tende a alienar as pessoas. A internet traz as visões mais diferenciadas e uma grande variedade de pontos de vista, já que qualquer um pode passar informação por ela, diferentemente das mídias tradicionais, monopolizadas por uma minoria. As comunidades virtuais são outra ferramenta vital, pois não há apenas a exposição de idéias, como a contraposição de pontos de vista - a discussão. Troca de idéias e argumentação coletiva. Temos pessoas das várias partes do mundo conectadas. Já existem fóruns de discussão sobre os mais diversos temas e assuntos. Segundo Pierre Lévy, por meio dessas comunidades caminhamos para uma Inteligência Coletiva:

     Isso tudo posto, tudo que me resta dizer é que as iniciativas de mobilização coletiva são um caminho mais do que válido para buscar um mundo melhor. Pense e faça os outros pensarem. Questione e faça os outros questionarem. Seja criativo. DIY now.

domingo, 2 de maio de 2010

incomunicação

    Atualmente, se acredita que a tecnologia proporcionou e irá mais ainda proporcionar ao homem uma comunicação mais eficiente. Interligando-se todo o mundo em tempo real, a informação já roda a uma velocidade inalcançável por todo o globo. Recebemos noticias dos lugares mais longínquos. Isso é realmente incrível e quebra fronteiras antes consideradas inquebráveis. Isso tudo é fato, mas isso tudo quer realmente dizer que a comunicação ficou mais eficiente?
    Vivemos a era da adoração a tudo que é tecnológico, de última geração. E nesse contexto, diversas teorias sobre a troca do real pelo virtual já foram criadas. Vende-se por aí que funções que emergem na internet um dia substituirão seu equivalente no mundo real. Isso é completamente mentira. Nunca que o virtual substituirá o real. O mundo real é o mundo em que vivemos, no espaço e tempo no qual estamos inseridos e são próprios do ser humano. O real é o mundo de verdade, o virtual é apenas um reflexo de um reflexo de um reflexo distorcido do que vivemos, com tempo e espaço intangíveis por nós.
     Por mais que interligue o mundo, não significa que a comunicação pela internet seja eficiente. Ela passa informação eficientemente sim, mas o conteúdo por ela passado permite uma comunicação muito mais ineficiente do que a realizada por duas ou mais pessoas em um quarto, por exemplo. No momento em que temos duas pessoas presentes no mesmo espaço é que é possível realmente uma comunicação de profunda complexidade e imenso resultado na criação de entendimento, compreensão e vínculos. O  imediatismo e minimalismo nos dados que viajam pela rede é gigantesco e isso gera facilmente a falha de comunicação ou, no pior dos casos, a falta total dela - a incomunicação. Muita informação roda, mas ela é toda passada por textos escritos, imagens, gravações de sons e videos - que são registros já subjetivos da realidade, que serão interpretados também subjetivamente. Isso posssibilita facilmente a má interpretação e o entendimento errôneo do que está sendo comunicado.
      Só na realidade é que o homem consegue atingir o maior grau de eficiência na comunicação, e, mesmo assim, várias barreiras de caráter subjetivo costumam entrar no caminho. No real se tem o máximo de qualidade de comunicação, só nele as pessoas se conhecem e criam vínculos. O corpo como um todo comunica - expressões faciais e corporais podem comunicar mais do que mil palavras ou 20.000 tweets (risos). Sentimentos e emoções só são realmente compartilhados no espaço real, pelo conjunto de sentidos que possuimos: audição, tato, olfato, paladar e visão. Além disso, só se enxerga e descobre a realidade estando nela, pois qualquer outra fonte já terá o ponto de vista de um terceiro envolvido, impedindo que você interprete o real por si mesmo e fazendo com que você enxergue a sua visão da visão que outra pessoa tem da realidade.
      A verdade é que o real é insubstituível. Trocá-lo pela internet é um erro tremendo, que estamos gradativamente cada vez mais cometendo. O tempo que se desperdiça hoje em redes sociais enquanto se poderia estar lá fora curtindo a vida real, conhecendo e se relacionando de verdade com outras pessoas só cresce. Você não conhece nem um milionésimo do que uma pessoa é apenas olhando um profile. A ineficiência comunicacional da mídia tecnológica é incalculável. Comunicar de verdade é mais do que apenas passar uma mensagem. É permitir que o outro te compreenda e conseguir compreender o outro. Nesse momento, criam-se laços reais e significativos.
      Por isso, precisamos evitar gastar horas do nosso dia no computador ou com qualquer outro meio eletrônico, como TV, rádio, etc. Devemos viver a realidade e a descobrir por nós mesmos. É muito fácil ser alienado quando você transforma a rede na sua principal fonte de informação, pois ela já é um registro subjetivo do real que irá, intencionalmente ou não, distorcer imensamente os fatos. Precisamos criar consciência disso e sair da fantasia de que a tecnologia é maravilhosa e perfeita. Comunicar-se com eficiência já é bastante difícil no mundo 3D, na web então...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

nada x tudo

    Hoje vou falar de tudo e de nada ao mesmo tempo. Acho que vou falar de tudo porque é uma grande façanha conseguir abranger a existência por completa em um post de blog! E acho que não vou falar de nada porque, bom... dá muito trabalho e é muito cansativo falar sobre alguma coisa, qualquer que seja. É nessa contradição sim que começo meu post, porque é nessa contradição que a sociedade vive hoje. Uma sociedade em que tudo é nada e nada é tudo.
   Bom, para explicar um pouco melhor do que estou falando, pego uma frase muito recorrente nos dias de hoje e uma verdade inquestionável: "Tudo em excesso faz mal". Seu médico já deve ter te dito isso ou você ouviu na TV. O caminho para uma vida saudável é a moderação. O segredo para o equilibrio em tudo é a moderação. Por isso hoje vivemos na era da desigualdade, porque hoje vivemos na era dos excessos.
    É só andar nas ruas para ver o excesso. O excesso impregna a sociedade máléficamente. Vemos propagandas em excesso, produtos em excesso, imagens em excesso, padrões estéticos, de comportamento e consumo nos bombardeiando intensivamente e excessivamente. É vendido para nós que o caminho para a felicidade é o trabalho e o consumo em excesso. E é aí que a desigualdade se dá: na busca do homem pelo excesso de commodities, logo de dinheiro.
     O excesso constitui no extremo. E viver em um extremo leva ao desequilibrio. A sociedade está material ao extremo. Temos milhares e milhares de produtos para serem consumidos e as pessoas fazem de tudo para tê-los. Cada vez mais coisa é fabricada, mais é consumido, se vê de tudo por aí para comprar. Tudo, tudo. É só procurar que você achará tudo em termos materiais. E o homem quer tudo hoje, quer ostentar todo tipo de coisa para sentir que tem poder, que está completo e com isso, encontrar a felicidade. Quem tem tudo, é feliz - esse é o discurso.
      Mas será que é verdade? Quem consegue comprar tudo é feliz? Ter tudo é o caminho ou isso é só um discurso construido? Pense bem, quem tudo tem o quê? O que realmente importa na vida? Coisas, bens commodities, produtos? É isso? Isso completa o individuo? Isso basta? Os outros individuos então não servem de nada senão de meras alavancas para que se alcançe esse poder aquisitivo e aí seja feliz?
      É isso que nos é vendido como verdade hoje. Que o dinheiro pode comprar tudo, e que isso traz felicidade. Mas esse tudo que o dinheiro pode te comprar na verdade não é nada. Quem tem tudo nesse caso não têm nada. É o excesso que gera a falta - sempre vai se querer mais e nunca será suficiente, e mesmo que desse pra se alcançar tudo... than what? A real é que todos esses produtos não têm profundidade alguma, são objetos inanimados sem emoções, sem vida. Uma vida completada por coisas materiais é uma vida incompleta, completada por nada mais que nada. Fica um vazio, não há um significado, uma alma em tudo isso. E, muitas vezes, quem não têm nada dessas coisas, não possui nada, nenhuma posse, é quem tem realmente tudo. Porque ele deve ter pessoas que gostam dele, amam ele e as quais ele ama e gosta também, se relacionando e criando laços, tendo momentos significativos; e/ou algo que ele faça e se sinta realizado, algo com que ele se descubra e se supere, criando, descobrindo e aprendendo a lidar... ou seja, coisas que realmente importam, independente de trazerem dinheiro ou não. Dinheiro é essencial para a sobrevivência, mas sobreviver é o mínimo, não significa que a pessoa seja feliz só por isso.
     A fórmula para a felicidade não existe, mas comprar bens materiais em excesso com certeza é que não é. Nada é tudo.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

McLaren, a mente por trás do punk

    No último post falei um pouco do que foi o punk. Coincidentemente, morreu semana passada o responsável pelo punk ter sido o que foi: Malcolm McLaren, o empresário dos Sex Pistols. Não sei se posso chamá-lo de gênio, porque não sei se ele imaginava a genialidade de sua jogada. Só sei que, apesar de eu vir culpando a ganância e a mentalidade materialista pelos problemas mundiais, esse é um exemplo em que a ambição de um homem chacoalhou o mundo com tudo, colocando todas as questões na mesa e instaurando a revolta mundo à fora.
     O movimento punk não começou na Inglaterra, ele já engatinhava anos antes nos Estados Unidos. As primeiras bandas que deram início a uma movimentação inicial na contramão do que vinha sendo feito estavam em Nova York na metade dos anos 70. A mais importante delas, como todos sabem, foi o Ramones - pais do punk. Nesse contexto, bandas cruas, minimalistas e - em alguns casos - agressivas e rebeldes surgiam fazendo o som como bem entendiam. O DIY ( Do it Yourself - Faça Você Mesmo) se impregnava, à medida que jovens desiludidos com a sociedade e a industrialização e profissionalização do rock criavam suas próprias bandas. Começava aí as, até hoje referência, músicas de 3 acordes apenas. McLaren, inglês viajando pelos EUA, observou esse fenômeno que acontecia e viu nele uma oportunidade de fazer muito dinheiro. Ele entendeu o que estava acontecendo, viu o que a juventude queria e precisava.
     De volta à Inglaterra, ele criou sua própria banda, seguindo o que rolava nos EUA. Juntou quatro moleques - um dos quais seria depois substituido pela polêmica lenda e ícone punk Sid Viscious - e montou o mito: os Sex Pistols. Levando a rebeldia, o som cru e simples, a agressividade e o DIY ao level máximo, a banda foi criada sem preocupação musical nenhuma, mas de olho na atitude, no questionar e causar acima de tudo. Foram a banda mais anarquista até então e ditaram para o mundo o que era ser punk, incorporando em si a revolta da juventude da época e disseminando seu estilo, música e atitude por todo o mundo. Suas roupas foram criadas por Vivenne Westwood - consagrada até hoje como estilista púnk - na época casada com McLaren. McLaren conseguiu toda a grana que queria, atingiu seu objetivo, mas ele fez muito mais que isso. Sua ambição capitalista o levou a criar um movimento subversivo caótico anti-capitalista e anárquico.
     A repercussão foi de proporções enormes, globais. Tocar três acordes, xingar o sistema, a rainha, dizer que não havia futuro, que fomos transformados em idiotas, cuspir na platéia, pixar as paredes usando roupas largadas, rasgadas e  sujas com elementos sadomasoquistas - espetos, couro e correntes - era o que o mundo plastificado industralizado precisava, uma oposição extrema ao que estava presente! Os Pistols personificaram o sentimento geral. Sem McLaren, o movimento não teria sido grande como foi, o punk inglês surgiu daí. Um imenso cenário de bandas punk surgiu então, entre elas o The Clash, outra influência inquestionável. E nesse caldeirão foi que o punk se consolidou como movimento de contracultura, tendo todo um conjunto de ideais criados a partir daquilo já estabelecido como a cara do punk por Johnny Rotten (vocal dos Sex Pistols) e seus colegas.



  

      É engraçado que buscando enriquecer enormemente como manda a lógica do capitalismo, McLaren tenha criado um grande grito de revolta e crítica a essa mesma lógica. Não tem jeito, o que o povo quer é o que dá dinheiro e se o povo compra a revolução, a revolução é que dará dinheiro, mesmo que ela consista em questionar toda a lógica do dinheiro acima de tudo e desmantelar dogmas da mentalidade do "ter". Mas em um mundo em que os mais diversos agentes atuam, cada um em sua direção no salve-se quem puder que é essa loucura do capitalismo selvagem desigual, os mais diversos resultados e reações advesas acabam por se desencadear. No meio disso, nasce o punk. No meio disso, nasce as mais diversas manifestações culturais, mas também surgem os mais teriiveis métodos de manipulação e alienação da população. Ninguém tem o controle enquanto seguirmos individualistas, cada um por si. Uns tentando dominar aos outros e, no final das contas, uma minima minoria é quem se beneficia apenas. É só ver que o punk acabou incorporado ao sistema, deixando de ser um questionamento ao mesmo para virar um mero commodity.
     Entre as forças atuando nas mais diversas direções, as com mais capital acabam vencendo e encaminhando para seu lado. Por isso o sistema não muda, mesmo com manifestações como as do punk. A única forma dos com menos dinheiro, a maioria, conseguir buscar um equilibrio, direcionar para seu lado as ações e reações é se houver uma união. Se todos atuarem juntos na mesma direção, serão mais fortes que aqueles que detém o poder aquisitivo hoje. É óbvio, a união faz a força, a maioria junta tem o poder de mudar. Mas mesmo sendo óbvio, parece que ninguém enxerga isso hoje. Seguimos no individualismo, na mentalidade do "ter" e do "garantir o seu". É hora de mudar a mentalidade, para fazer um movimento que realmente mude o mundo por completo. É levar o que o punk foi para um outro nível.

domingo, 4 de abril de 2010

DIY - a filosofia punk na reversão do sistema atual


     Já falei por aqui que a mídia mainstream, aquela à qual a maioria das pessoas têm acesso, é dominada pelas grandes empresas e que a união da indústria de bens de consumo e da indústria do entretenimento é o que leva à produção e proliferação de material alienante, que  ocupa o tempo de possível reflexão da pessoa com entretenimento e jornalismo superficial e de fácil digestão, afastando o consumidor da vil realidade que o cerca e do pensar sobre as causas e efeitos dos vários problemas mundiais e de menores escalas. E, também como já disse, isso impede uma percepção da realidade e uma mobilização da população, que se mantém robozinhos cegos que consomem e trabalham alimentando o sistema desigual e injusto atual.
      Está claro que isso acontece porque existem as grandes empresas que monopolizam o mercado, controladas por grandes empresários que continuam a busca incessante por dinheiro sem ligar para o restante da população em péssimas condições de vida. É certo que nem tudo aquilo que é produzido pela mídia onipresente em nossas vidas é lixo. Jornais e sites mainstream possuem muitas vezes colunas de opinião e áreas em que assuntos são debatidos por pensadores das diferentes áreas, mas, por serem de digestão mais dificil ou por estarem em meios mais caros e de acesso restrito, são lidos, isso quando lidos, por uma parcela minima de uma minoria.

      Uma exposição da realidade feita de forma reflexiva, em que há uma análise e confronto de pontos de vista é essencial para que se comece a pensar em mobilização e busca por mudança da realidade. Só se conscientiza permitindo e incentivando a reflexão. A mídia hoje vai na contramão disso. Esse tipo de iniciativa hoje só é possível de forma desvinculada à grande mídia e às grandes empresas - no underground, por assim dizer. Os que estão no poder não querem que isso seja possível. Iniciativas com esse tipo de objetivo só são possíveis se feita por quem não está no poder. Todos nós podemos e devemos tomar iniciativas nessa direção. Somos pessoas pensantes e atuantes no mundo que podem fazer as coisas por elas mesmas se correrem atrás. Porque se nós não fizermos ninguém fará por nós. Está insatisfeito com algo? Quer saber porque as coisas são de um determinado jeito e não de outro? Tire a bunda da cadeira e faça alguma coisa, tome uma atitude quanto ao assunto. É o mesmo principio da filosofia punk, do Faça Você Mesmo - Do It Yourself, em inglês. O DIY diz exatamente isso. É cada um fazendo por si só, sem esperar que qualquer força maior o faça. Se quer algo, vá atrás e faça.
        Foi com esse pensamento que as várias bandas punk surgiram no final dos anos 70. Tanto nos EUA quanto na Inglaterra, a juventude estava insatisfeita tanto com a condição social da população quanto com a profissionalização e industrialização do rock. Aí se formaram as primeiras bandas punk, com um som cru e simples, estilo sujo e rebelde, indo contra tudo vigente na época - causando mesmo. Uma das bases do movimento foi o DIY, a idéia de que qualquer um podia chegar e fazer o som como quisesse e soubesse, questionando o que via de errado no mundo. E o movimento se extendeu por um longo período, passando por uma fase de decadência nos anos 80, após o punk se dividir nas mais diversas vertentes e retornando com tudo nos anos 90, mas sem o mesmo espirito e raça da década de 70, uma vez já inserido em boa parte no sistema, trnsmutado em máquina de dinheiro de grandes gravadoras. O punk começou como uma grande afronta e quebra de costumes e padrões, para acabar transformado em modismo e commodity para larga escala. Infelizmente, isso acaba acontecendo com todo tipo de manifestação e produção cultural popular. No final das contas, a moçada se rende à mentalidade do "ter" capitalista. Bandas realmente DIY hoje são raras e escondidas. O punk, agora comercialzão, já é simplesmente absorvido assim como todo o resto do que é feito pela mídia mainstream.   
       O movimento deu uma boa chacoalhada no mundo, mas que não foi suficiente para efetivamente mudar a realidade. Mas acredito que sem ele estariamos em uma situação muito pior hoje em dia. Foi uma bela e importante levantada de voz da população para a injustiça e ausência de valores na sociedade contemporânea. E só foi possível graças ao seu espiríto DIY, que levou a uma mobilização gigante em prol do movimento. Uma maré na direção contrária do industrial, idealizado e plastificado. O punk era algo alcançável, que qualquer um podia fazer e ouvir, um som até desagradável, assim como a realidade o é. O oposto do mundo falso passado pela mídia está ali personificado em música, moda, esporte e atitude - um grito a favor do ativo e não do passivo, uma rajada de visão nos olhos antes cegados.
         Não o punk em si, porque ele já foi incorporado ao sistema e à mídia mainstream - já ficou batido - , mas a idéia do Do It Yourself é, mais do que nunca, necessária hoje. Já passou da hora de buscarmos as coisas por nós mesmos, não ficarmos dependendo do sistema e do governo. Para mudar o mundo, precisamos se mobilizar, e mobilizar os outros. Nós somos capazes e, como habitantes desse mundo, é nossa obrigação fazer algo para melhorá-lo. Podemos juntos melhorar a vida da humanidade, é só não termos medo de tentar. As coisas não são assim porque são, as pessoas que as deixaram assim e as pessoas que podem mudá-las. É só usarmos das ferramentas ao nosso dispor para tanto. A internet hoje nos proporciona tanto, temos todas as pessoas, onde estiverem, conectadas umas com as outras - é uma ferramenta de poder incalculável e que pode e deve sim ser usada por nós na busca por mudança. As  ferramentas ao dispor de cada um para se buscar um mundo melhor hoje são muitas. Logo, depende de nós unicamente. Já passou da hora de agir.

segunda-feira, 29 de março de 2010

ícones vazios

   
    Mudei o layout do blog. Já tava cansado do antigo, apesar de que era bem legal. Observem que, como tudo hoje em dia, ficou obsoleto em pouco tempo. Eu me cansei dele porque estou preso à sociedade atual, que cansa de tudo muito rápido [diria que o visual anterior até resistiu bravamente além do esperado]. Vivemos na era da constante mudança, em que nada dura o suficiente para fazer sentido. Tudo é material, tudo é coisa. Por isso, é substituível, é descartável, porque não passa de algo superficial, sem alma - uma simples imagem. Pessoas famosas são um bom exemplo disso. Pessoas famosas são como produtos. Nós a consumimos e, quando cansamos, a jogamos fora e trocamos por outra. Mas aí alguém irá dizer “elas não são como produtos, elas são pessoas e pessoas têm alma e não são descartáveis, cada vida e cada ser são únicos”. Pura verdade. Porém, não são as pessoas famosas em si que são descartadas - a pessoa continua viva, pensante e atuante no mundo como o restante dos mortais – o que é descartada é a imagem da pessoa. A imagem dela sai da mídia, é esquecida. Mesmo que lembrada, como muitas imagens marcantes, é lembrada como algo do passado, já substituído por uma imagem equivalente.
    Isso é bem óbvio hoje em dia, mas raramente paramos para pensar a fundo no assunto. Temos a tendência de simplesmente aceitar as coisas como são e não refletir do porque e das diversas implicações – causas e efeitos. Nada surge do nada. O que me trouxe ao assunto, além de claro ser intrínseco aos tópicos que abordo com frequência no blog, foi a exposição que eu fui sexta, “Mr. America” do Andy Warhol que fica até Maio na Estação Pinacoteca em São Paulo. Uma exposição imperdível que reúne as obras mais importantes desse gênio revolucionário da arte. Em sua obra, temos retratados os ícones da sociedade de massa da segunda metade do século XX. Warhol retrata e critica exatamente, entre outros aspectos, a superficialidade e a adoração inconsistente por ícones que não passam de imagens sem qualquer profundidade de significado ou real identidade com a população.
    De lá pra cá, diversas coisas mudaram. A tecnologia evoluiu, a produção de commodities se expandiu e intensificou nas mais diferentes áreas, novos públicos foram se formando e os meios de comunicação passaram a ser interativos. Muito mudou é verdade, mas na essência tudo continua igual. Nos mantivemos a mesma sociedade vazia. A adoração a ícones só aumentou, com a ascenção desenfreada do consumismo e a expansão e subdivisão das indústrias. Istoé, a realidade retratada por Warhol só se intensficou e, pior ainda, se globalizou. É verdade que não somos mais massificados como antigamente, houve uma segmentação e fragmentação dos consumidores, mas isso em nada mudou a idolatrização, só aumentou a variedade de imagens sem sentido para serem consumidas. E essas imagens são descartadas e substituídas a cada instante, como já falei no começo.
    Para entender melhor essa idéia de imagem, voltemos às pessoas famosas, que estão aí expostas apenas em imagem. Um excelente exemplo é a Marilyn Monroe, um símbolo mais do que marcante na sociedade ocidental, também presente, como todos sabem, na obra de Warhol. Acredita-se que todos nós conhecemos Marilyn Monroe - sabemos quem ela é. Isso não é verdade. Nós só conhecemos a imagem dela, não sabemos quem ela é. Quais eram seus desejos, medos, sonhos, angústias, gostos, inseguranças, valores, opiniões sobre o mundo? Eu sei lá! Só quem realmente conheceu Marilyn pode responder a uma dessas perguntas. Nós, que apenas a conhecemos por imagem, por aquilo no que a mídia a transformou para o público, não fazemos a miníma idéia de absolutamente nada sobre a pessoa Marilyn Monroe. E é isso também que faz das imagens tão descartáveis. São esteriótipos batidos criados em cima de uma determinada pessoa ou objeto ou empresa… Os sex symbols representam sexo, qualquer gostosa por aí pode ocupar esse papel. É só ser gostosa. É só ter o corpo considerado ideal para o papel e, a partir daí, assumir um personagem para ser vendido e consumido em grande escala. É um personagem plano e oco. Nada mais que isso.
    Esses ícones ocupam o imaginário popular e atuam como agente manipulador e alienador da sociedade. Nossa visão de mundo é distorcida por essas imagens forjadas. Afastamos nosso olhar da realidade para se prender àquilo vendido como ideal e padrão a ser buscado. Há uma mistificação das pessoas famosas, para que sejam vistas como inalcançáveis e perfeitas. O sonho de todos passa a ser tentar ser igual a elas. Cria-se a ilusão de que todos podemos ficar ricos e famosos e que, a partir daí, seremos perfeitos que nem as falsas imagens que vemos no cinema, TV, revistas, internet, etc. E, como já afirmei, seguimos assim até hoje. O mundo plástico holywoodiano ofusca os grandes e pequenos problemas mundiais. A imensa e brutal desigualdade social é esquecida e as empresas seguem fazendo a festa às custas de uma maioria com péssimas condições de vida e cegada pela mentalidade do consumo.
     A arte de Warhol é, portanto, atemporal. E continuará atemporal até que percebamos o quão errado e superficial está o nosso mundo. Tudo é coisificado,transformado em produto. A única mudança que ocorre é a do enlatado para o digital, mas será que essa mudança tem algo de significativo? Que tal parar de consumir e tentar pensar um pouco? Qual o sentido de tudo isso? Que mundo é esse?

domingo, 21 de março de 2010

Ciclos e mais ciclos

      Eu acredito que tudo é cíclico. Nada é linear, nada é uma constante evolução. Tudo consiste na eterna ida e volta, subida e descida, o eterno retorno. A vida, o mundo, o universo, a natureza, a sociedade consistem em ciclos formados por ciclos menores, que, por sua vez, são formados por ciclos ainda menores... e assim por diante. Sim, as coisas mudam e se transformam, mas tudo em cima de uma base ciclica, uma lógica de ascenção e queda. Há uma quantidade imensa de exemplos a serem dados para comprovar minha tese, inclusive teorias ciclicas de teóricos, pesquisadores, estudiosos e filósofos nos mais diferentes campos.
      Observando a história, conseguimos enxergar os ciclos nas mais distintas escalas. Da racionalidade grega e romana fomos para o misticismo medieval, e acabamos por nos tornar à racionalidade novamente, quando se inicia a Idade Moderna. Lógico que a certeza da volta ao misticismo é nula, vista a enorme escala com que estamos lidando.  Peguemos agora um exemplo de algo menor, que lida com períodos de em torno de 50 anos: os ciclos de Nikolai Kondratiev. Um ciclo de Kondratiev tem um período de duração determinada, que corresponde aproximadamente ao retorno de um mesmo fenômeno. Apresenta duas fases distintas: uma fase ascendente e uma descendente. Eles se aplicam à economia mundial e já foram comprovados como válidos na prática, vide todos os apogeus e crises imensos que já vivemos no último século. E, diminuindo ainda mais a escala, podemos ver essa lógica na carreira de uma pessoa. Toda carreira tem seus altos e baixos, assim como os relacionamentos e tudo que envolve a vida de cada um. Não há excessão a essa regra. Claro que os ciclos, como tudo nesse mundo, podem ser extremamente inconstantes e irregulares, havendo a possibilidade de longos períodos de estabilidade, assim como de queda e ascenção de uma constância totalmente bizarra. 
        O fato é que, por mais que se acredite que tudo é cíclico, é impossivel compreender tudo usando essa lógica. Rotular, controlar, entender tudo é impossivel, cada vez mais. Um mundo cada vez mais populoso e fragmentado como o que vivemos consiste na cada vez maior inconstância e, com isso, dificuldade de análise. Eu acredito no cíclico, mas acredito que essa visão não nos permite entender todos os processos que englobam a realidade, nenhuma lógica permite. Requer tempo, conhecimento, diferente ângulos de observação e vários leveis de reflexão para poder se chegar o mais próximo possivel de saber para onde o mundo está indo. Porém, a lógica do cíclico está aí, e é uma das bases da dinâmica do real, sendo de extrema relevância para uma, mesmo que minima, compreensão do mundo e a vida. O linear não existe.