segunda-feira, 29 de março de 2010

ícones vazios

   
    Mudei o layout do blog. Já tava cansado do antigo, apesar de que era bem legal. Observem que, como tudo hoje em dia, ficou obsoleto em pouco tempo. Eu me cansei dele porque estou preso à sociedade atual, que cansa de tudo muito rápido [diria que o visual anterior até resistiu bravamente além do esperado]. Vivemos na era da constante mudança, em que nada dura o suficiente para fazer sentido. Tudo é material, tudo é coisa. Por isso, é substituível, é descartável, porque não passa de algo superficial, sem alma - uma simples imagem. Pessoas famosas são um bom exemplo disso. Pessoas famosas são como produtos. Nós a consumimos e, quando cansamos, a jogamos fora e trocamos por outra. Mas aí alguém irá dizer “elas não são como produtos, elas são pessoas e pessoas têm alma e não são descartáveis, cada vida e cada ser são únicos”. Pura verdade. Porém, não são as pessoas famosas em si que são descartadas - a pessoa continua viva, pensante e atuante no mundo como o restante dos mortais – o que é descartada é a imagem da pessoa. A imagem dela sai da mídia, é esquecida. Mesmo que lembrada, como muitas imagens marcantes, é lembrada como algo do passado, já substituído por uma imagem equivalente.
    Isso é bem óbvio hoje em dia, mas raramente paramos para pensar a fundo no assunto. Temos a tendência de simplesmente aceitar as coisas como são e não refletir do porque e das diversas implicações – causas e efeitos. Nada surge do nada. O que me trouxe ao assunto, além de claro ser intrínseco aos tópicos que abordo com frequência no blog, foi a exposição que eu fui sexta, “Mr. America” do Andy Warhol que fica até Maio na Estação Pinacoteca em São Paulo. Uma exposição imperdível que reúne as obras mais importantes desse gênio revolucionário da arte. Em sua obra, temos retratados os ícones da sociedade de massa da segunda metade do século XX. Warhol retrata e critica exatamente, entre outros aspectos, a superficialidade e a adoração inconsistente por ícones que não passam de imagens sem qualquer profundidade de significado ou real identidade com a população.
    De lá pra cá, diversas coisas mudaram. A tecnologia evoluiu, a produção de commodities se expandiu e intensificou nas mais diferentes áreas, novos públicos foram se formando e os meios de comunicação passaram a ser interativos. Muito mudou é verdade, mas na essência tudo continua igual. Nos mantivemos a mesma sociedade vazia. A adoração a ícones só aumentou, com a ascenção desenfreada do consumismo e a expansão e subdivisão das indústrias. Istoé, a realidade retratada por Warhol só se intensficou e, pior ainda, se globalizou. É verdade que não somos mais massificados como antigamente, houve uma segmentação e fragmentação dos consumidores, mas isso em nada mudou a idolatrização, só aumentou a variedade de imagens sem sentido para serem consumidas. E essas imagens são descartadas e substituídas a cada instante, como já falei no começo.
    Para entender melhor essa idéia de imagem, voltemos às pessoas famosas, que estão aí expostas apenas em imagem. Um excelente exemplo é a Marilyn Monroe, um símbolo mais do que marcante na sociedade ocidental, também presente, como todos sabem, na obra de Warhol. Acredita-se que todos nós conhecemos Marilyn Monroe - sabemos quem ela é. Isso não é verdade. Nós só conhecemos a imagem dela, não sabemos quem ela é. Quais eram seus desejos, medos, sonhos, angústias, gostos, inseguranças, valores, opiniões sobre o mundo? Eu sei lá! Só quem realmente conheceu Marilyn pode responder a uma dessas perguntas. Nós, que apenas a conhecemos por imagem, por aquilo no que a mídia a transformou para o público, não fazemos a miníma idéia de absolutamente nada sobre a pessoa Marilyn Monroe. E é isso também que faz das imagens tão descartáveis. São esteriótipos batidos criados em cima de uma determinada pessoa ou objeto ou empresa… Os sex symbols representam sexo, qualquer gostosa por aí pode ocupar esse papel. É só ser gostosa. É só ter o corpo considerado ideal para o papel e, a partir daí, assumir um personagem para ser vendido e consumido em grande escala. É um personagem plano e oco. Nada mais que isso.
    Esses ícones ocupam o imaginário popular e atuam como agente manipulador e alienador da sociedade. Nossa visão de mundo é distorcida por essas imagens forjadas. Afastamos nosso olhar da realidade para se prender àquilo vendido como ideal e padrão a ser buscado. Há uma mistificação das pessoas famosas, para que sejam vistas como inalcançáveis e perfeitas. O sonho de todos passa a ser tentar ser igual a elas. Cria-se a ilusão de que todos podemos ficar ricos e famosos e que, a partir daí, seremos perfeitos que nem as falsas imagens que vemos no cinema, TV, revistas, internet, etc. E, como já afirmei, seguimos assim até hoje. O mundo plástico holywoodiano ofusca os grandes e pequenos problemas mundiais. A imensa e brutal desigualdade social é esquecida e as empresas seguem fazendo a festa às custas de uma maioria com péssimas condições de vida e cegada pela mentalidade do consumo.
     A arte de Warhol é, portanto, atemporal. E continuará atemporal até que percebamos o quão errado e superficial está o nosso mundo. Tudo é coisificado,transformado em produto. A única mudança que ocorre é a do enlatado para o digital, mas será que essa mudança tem algo de significativo? Que tal parar de consumir e tentar pensar um pouco? Qual o sentido de tudo isso? Que mundo é esse?

domingo, 21 de março de 2010

Ciclos e mais ciclos

      Eu acredito que tudo é cíclico. Nada é linear, nada é uma constante evolução. Tudo consiste na eterna ida e volta, subida e descida, o eterno retorno. A vida, o mundo, o universo, a natureza, a sociedade consistem em ciclos formados por ciclos menores, que, por sua vez, são formados por ciclos ainda menores... e assim por diante. Sim, as coisas mudam e se transformam, mas tudo em cima de uma base ciclica, uma lógica de ascenção e queda. Há uma quantidade imensa de exemplos a serem dados para comprovar minha tese, inclusive teorias ciclicas de teóricos, pesquisadores, estudiosos e filósofos nos mais diferentes campos.
      Observando a história, conseguimos enxergar os ciclos nas mais distintas escalas. Da racionalidade grega e romana fomos para o misticismo medieval, e acabamos por nos tornar à racionalidade novamente, quando se inicia a Idade Moderna. Lógico que a certeza da volta ao misticismo é nula, vista a enorme escala com que estamos lidando.  Peguemos agora um exemplo de algo menor, que lida com períodos de em torno de 50 anos: os ciclos de Nikolai Kondratiev. Um ciclo de Kondratiev tem um período de duração determinada, que corresponde aproximadamente ao retorno de um mesmo fenômeno. Apresenta duas fases distintas: uma fase ascendente e uma descendente. Eles se aplicam à economia mundial e já foram comprovados como válidos na prática, vide todos os apogeus e crises imensos que já vivemos no último século. E, diminuindo ainda mais a escala, podemos ver essa lógica na carreira de uma pessoa. Toda carreira tem seus altos e baixos, assim como os relacionamentos e tudo que envolve a vida de cada um. Não há excessão a essa regra. Claro que os ciclos, como tudo nesse mundo, podem ser extremamente inconstantes e irregulares, havendo a possibilidade de longos períodos de estabilidade, assim como de queda e ascenção de uma constância totalmente bizarra. 
        O fato é que, por mais que se acredite que tudo é cíclico, é impossivel compreender tudo usando essa lógica. Rotular, controlar, entender tudo é impossivel, cada vez mais. Um mundo cada vez mais populoso e fragmentado como o que vivemos consiste na cada vez maior inconstância e, com isso, dificuldade de análise. Eu acredito no cíclico, mas acredito que essa visão não nos permite entender todos os processos que englobam a realidade, nenhuma lógica permite. Requer tempo, conhecimento, diferente ângulos de observação e vários leveis de reflexão para poder se chegar o mais próximo possivel de saber para onde o mundo está indo. Porém, a lógica do cíclico está aí, e é uma das bases da dinâmica do real, sendo de extrema relevância para uma, mesmo que minima, compreensão do mundo e a vida. O linear não existe.

segunda-feira, 15 de março de 2010

diversamente fragmentado

  O mundo é diverso. Hoje, não existe um produto que agrade a todos. Estamos longe disso. A sociedade não é massificada como as grandes empresas gostariam. Isso por um lado é bom e por outro é ruim. É bom porque como se tem os mais variados grupos, se tem as mais variadas atrações para cada grupo consumir. As empresas tentam ganhar cada vez mais dinheiro e, para isso, precisam atingir o maior número de pessoas que puder. Dessa forma, a indústria se torna ampla e rica, são produzidos os mais diferentes tipos de coisas para os mais diferentes tipos de consumidores. Isso incentiva a criatividade e a inovação em todos os setores, o que é muito loko. Se acha quase de tudo por aí hoje em dia.

    Por outro lado, essa diversidade não impede que se tenha um monopólio. Grandes corporações milionárias dominam o mercado, impedindo a competição e garantindo a cada vez maior desigualdade social. Uma única empresa fabrica os mais diferentes produtos. Por exemplo, uma mesma editora tem linhas de revistas e livros distintas para cada nicho. Assim, a diversidade acaba sugada pela corrente capitalista, alimentando o imperialismo atual. O mundo é diverso, mas só um pequeno grupo dentre os muitos existentes tem o poder.

    A fragmentação da população mundial em pequenos grupos, com diferentes gostos, visões, ambições, etc., por mais que pareça algo bom por dar a idéia de reversão do processo de massificação, impede uma mudança do mundo em larga escala. Não só pelo fato de se haver um desequilibrio nas relações de poder e um mercado monopolizado, mas também porque acabar com a injustiça no mundo e derrubar o terrível sistema atual dependeria de uma mudança de mentalidade por parte da maioria global e de uma movimentação coletiva para tirar as grandes empresas do alto da pirâmide. Logo, um mundo dividido dificulta ainda mais a busca por mudança. Movimentação coletiva requer uma integração de todos, todo mundo enxergar a necessidade de mudança e agir junto. Portanto, integrar os pequenos grupos seria um passo fundamental para começar a se pensar em uma mudança significativa da situação atual.

Como se obter uma união de todos? Esse é o desafio agora.

sexta-feira, 5 de março de 2010

a imagem como realidade

     Cada vez mais, vivemos da imagem. Nosso contato com a realidade se dá pela imagem. Vemos imagens na TV, imagens no jornal, imagens na internet, imagens na rua. Imagens essas que nos trazem informações sobre o que ocorre no mundo, sendo representantes da realidade. Elas não só mediam a relação entre nós e o real, como o distorcem. Elas são um recorte - uma interpretação de quem as concebeu que será interpretada por nós. Istoé, uma interpretação da realidade que nós, por nossa vez, interpretamos como bem entendemos. Logo, são extremamente subjetivas e precisam ser enxergadas com um olhar critico. Um olhar consciente de que aquilo não é o real, mas um ponto de vista do real. O problema é que as pessoas hoje cada vez menos têm esse olhar e cada vez mais veem as imagens como se fossem o mundo em si.
     Bombardeadas por imagens e dependentes das mesmas até mesmo para sua auto-afirmação diante da sociedade, as pessoas no geral não refletem sobre a imagem como algo feito com uma determinada intenção por seu concebedor, como algo construido de uma determinada forma por determinados motivos. Existem sim imagens que tentam traduzir o real da forma mais nua a crua o posssivel, mas ainda assim isso não acontece, há sempre o elemento da subjetividade. E os individuos não terem consciência disso é uma das principais razões pelas quais a midia tão facilmente os manipula, engana e aliena, defendendo as intenções de certos grupos e subjugando o restante.
     Imagens são ricas e de extensos significado e possibilidades de interpretação, possuindo imensa profundidade e poderosa capacidade comunicativa. Porém, como tudo, a imagem pode ser usada para o bem ou para o mal. Claro que existens tons de cinza e esses dois conceitos são relativos e de um maniqueismo tolo, mas vocês vão ter que concordar que manipular o povo é errado. Bom, anyway...no momento que as imagens são usadas para controlar as pessoas, o fato daquelas serem vistas como a pura realidade só facilita o processo. Logo, é uma relação que depende de dois elementos: empresas mal intencionadas e expectadores que têm para si um conceito errôneo do que é imagem. Se tirarmos um dos dois de cena, a alienação por meio de imagens, em teoria, acaba. Claro que o texto verbal também tem um alto poder de persuação e distorção de fatos, mas não tanto quanto o visual. Portanto, se as pessoas soubessem lidar com as imagens, o controle da mídia sobre a população reduziria significativamente.
     Conclui-se disso que um primeiro passo para acabar com a desigualdade no mundo seria possibilitar que as pessoas enxerguem as imagens como um recorte pessoal e parcial do cotidiano. A forma como se vê a imagem hoje precisa mudar, porque a manipulação da população mundial por parte dos meios de comunicação perderia uma gigante parte de sua força se isso acontecesse. Seria um começo no longo e árduo processo de abrir os olhos de todos para a realidade. O ser humano com olhar critico, pensante é aquele incontrolável, aquele que muda e movimenta o mundo. E, mais que nunca, precisamos dele.