Mudei o layout do blog. Já tava cansado do antigo, apesar de que era bem legal. Observem que, como tudo hoje em dia, ficou obsoleto em pouco tempo. Eu me cansei dele porque estou preso à sociedade atual, que cansa de tudo muito rápido [diria que o visual anterior até resistiu bravamente além do esperado]. Vivemos na era da constante mudança, em que nada dura o suficiente para fazer sentido. Tudo é material, tudo é coisa. Por isso, é substituível, é descartável, porque não passa de algo superficial, sem alma - uma simples imagem. Pessoas famosas são um bom exemplo disso. Pessoas famosas são como produtos. Nós a consumimos e, quando cansamos, a jogamos fora e trocamos por outra. Mas aí alguém irá dizer “elas não são como produtos, elas são pessoas e pessoas têm alma e não são descartáveis, cada vida e cada ser são únicos”. Pura verdade. Porém, não são as pessoas famosas em si que são descartadas - a pessoa continua viva, pensante e atuante no mundo como o restante dos mortais – o que é descartada é a imagem da pessoa. A imagem dela sai da mídia, é esquecida. Mesmo que lembrada, como muitas imagens marcantes, é lembrada como algo do passado, já substituído por uma imagem equivalente.
Isso é bem óbvio hoje em dia, mas raramente paramos para pensar a fundo no assunto. Temos a tendência de simplesmente aceitar as coisas como são e não refletir do porque e das diversas implicações – causas e efeitos. Nada surge do nada. O que me trouxe ao assunto, além de claro ser intrínseco aos tópicos que abordo com frequência no blog, foi a exposição que eu fui sexta, “Mr. America” do Andy Warhol que fica até Maio na Estação Pinacoteca em São Paulo. Uma exposição imperdível que reúne as obras mais importantes desse gênio revolucionário da arte. Em sua obra, temos retratados os ícones da sociedade de massa da segunda metade do século XX. Warhol retrata e critica exatamente, entre outros aspectos, a superficialidade e a adoração inconsistente por ícones que não passam de imagens sem qualquer profundidade de significado ou real identidade com a população.
De lá pra cá, diversas coisas mudaram. A tecnologia evoluiu, a produção de commodities se expandiu e intensificou nas mais diferentes áreas, novos públicos foram se formando e os meios de comunicação passaram a ser interativos. Muito mudou é verdade, mas na essência tudo continua igual. Nos mantivemos a mesma sociedade vazia. A adoração a ícones só aumentou, com a ascenção desenfreada do consumismo e a expansão e subdivisão das indústrias. Istoé, a realidade retratada por Warhol só se intensficou e, pior ainda, se globalizou. É verdade que não somos mais massificados como antigamente, houve uma segmentação e fragmentação dos consumidores, mas isso em nada mudou a idolatrização, só aumentou a variedade de imagens sem sentido para serem consumidas. E essas imagens são descartadas e substituídas a cada instante, como já falei no começo.
Para entender melhor essa idéia de imagem, voltemos às pessoas famosas, que estão aí expostas apenas em imagem. Um excelente exemplo é a Marilyn Monroe, um símbolo mais do que marcante na sociedade ocidental, também presente, como todos sabem, na obra de Warhol. Acredita-se que todos nós conhecemos Marilyn Monroe - sabemos quem ela é. Isso não é verdade. Nós só conhecemos a imagem dela, não sabemos quem ela é. Quais eram seus desejos, medos, sonhos, angústias, gostos, inseguranças, valores, opiniões sobre o mundo? Eu sei lá! Só quem realmente conheceu Marilyn pode responder a uma dessas perguntas. Nós, que apenas a conhecemos por imagem, por aquilo no que a mídia a transformou para o público, não fazemos a miníma idéia de absolutamente nada sobre a pessoa Marilyn Monroe. E é isso também que faz das imagens tão descartáveis. São esteriótipos batidos criados em cima de uma determinada pessoa ou objeto ou empresa… Os sex symbols representam sexo, qualquer gostosa por aí pode ocupar esse papel. É só ser gostosa. É só ter o corpo considerado ideal para o papel e, a partir daí, assumir um personagem para ser vendido e consumido em grande escala. É um personagem plano e oco. Nada mais que isso.
Esses ícones ocupam o imaginário popular e atuam como agente manipulador e alienador da sociedade. Nossa visão de mundo é distorcida por essas imagens forjadas. Afastamos nosso olhar da realidade para se prender àquilo vendido como ideal e padrão a ser buscado. Há uma mistificação das pessoas famosas, para que sejam vistas como inalcançáveis e perfeitas. O sonho de todos passa a ser tentar ser igual a elas. Cria-se a ilusão de que todos podemos ficar ricos e famosos e que, a partir daí, seremos perfeitos que nem as falsas imagens que vemos no cinema, TV, revistas, internet, etc. E, como já afirmei, seguimos assim até hoje. O mundo plástico holywoodiano ofusca os grandes e pequenos problemas mundiais. A imensa e brutal desigualdade social é esquecida e as empresas seguem fazendo a festa às custas de uma maioria com péssimas condições de vida e cegada pela mentalidade do consumo.
A arte de Warhol é, portanto, atemporal. E continuará atemporal até que percebamos o quão errado e superficial está o nosso mundo. Tudo é coisificado,transformado em produto. A única mudança que ocorre é a do enlatado para o digital, mas será que essa mudança tem algo de significativo? Que tal parar de consumir e tentar pensar um pouco? Qual o sentido de tudo isso? Que mundo é esse?