sexta-feira, 14 de maio de 2010

Criatividade, ativismo & internet

      Já defini aqui no blog que acredito no espirito DIY (Do It Yourself - Faça Você Mesmo) como o grande mecanismo modificador e revolucionador da realidade. Iniciativas de pessoas que querem um mundo melhor são o caminho para um mundo melhor. Só nós podemos mudar o mundo, porque o mundo é movido pelas pessoas e ninguém mais. E a forma mais eficaz de se mudar o mundo é pensando fora dos padrões - questionando e inovando - e mobilizando as pessoas. Sair da caixa é o primeiro passo, perceber um outro mundo possível, uma outra forma de pensamento e organização - e buscar caminhos para alcançá-la. Cada pessoa têm capacidade de intervir e influenciar no caminho que a sociedade segue, somos todos integrantes ativos e pensantes dela. E é na união das pessoas que se têm uma influência realmente significativa a ponto de enfrentar o estabilishment e bater de frente com o que hoje é status quo.
      Não é uma tarefa fácil. Longe disso, é um processo complexo, que requer dedicação e, antes de tudo, coragem e criatividade. Mas diante de um mundo tão errado, nada mais certo que tentar mudá-lo - fazê-lo menos errado. Iniciativas desse calibre já existem e pego como exemplo aqui o Punkvoter. É um exemplo que acabou falhando no seu objetivo principal, mas que eu acho uma iniciativa bastante interessante e um ótimo modelo de mobilização. Fat Mike Burkett, vocalista do NOFX [que eu vi ao vivo no show deles março! aee rs] e ativista, foi o responsável por moblizar uma quantidade gigante de jovens relacionados de alguma maneira com o movimento punk - desde bandas independentes até bandas de grandes gravadoras - para votar contra George W. Bush nas eleições de 2004. Recrutou todos que conseguiu das mais diferentes vertentes de punk rock e conseguiu mais de 100 mil jovens inscritos no grupo. E não foi apenas um grupo para derrotar Bush que foi criado, mas uma forma de inclusão social educadora e incentivadora de jovens politicamente ativos - preocupados com o futuro do país.
    Infelizmente, Bush ganhou a eleição. Apesar do gigantesco movimento no qual se tornou o Punkvoter, não foi suficiente para vencer a eleição. Mas iniciativas como essas são essenciais porque sem elas as chances de se vencer Bush iam ser ainda menores, quase nulas, e a Punkvoter foi eficiente no sentido de educar e incluir jovens, como falei antes - que já é um ponto essencial para uma real mudança. Istoé, pode não ter derrotado Bush, mas fez muito pela sociedade mesmo assim - abrir a mente das pessoas já é um grande passo. Quaisquer que sejam, iniciativas positivas são essenciais! Agora, por que Bush não foi derrotado? Na minha opinião, foi porque, apesar da beleza da iniciativa, o Punkvoter foi muito limitado, abrangeu apenas um campo limitado de gente - só os dentro de alguma forma do movimento punk. Essa limitação não é culpa de Mike ou de ninguém, mas é apenas consequência de viver na sociedade que a gente vive. Mike tentou alcançar o mais amplo campo de pessoas possível, mas não foi suficiente, porque a sociedade está fragmentada em grupos com diferentes interesses que não se relacionam entre si. Mike já quebrou milhares de barreiras - pois o próprio movimento punk é super dividido. E ainda mais e mais e mais barreiras precisam ser quebradas para se alcançar um coletivo realmente unido e disposto a mudar a realidade. Uma tarefa monstruosa.
     Como quebrar tantas barreiras? Aí entra a criatividade de novo. Como unir as pessoas? É necessário encontrar um objetivo em comum, um fim que todos almejem. O mundo melhor seria um fim que a maioria almeja, se tirarmos dela as vendas colocadas pela mídia. Mas.... mundo melhor? Que conceito mais abstrato! O que exatamente é isso? As pessoas enxergam realmente o que há de errado com o mundo? Necessitamos perceber que tudo está interligado, que todos os problemas têm um único motivo: o sistema desigual e materialista em que vivemos. Cada grupo tem seus problemas e todos esses problemas são fruto da lógica que rege o mundo hoje. Percebendo isso, temos um fim comum. Todos querem acabar com seus problemas, logo todos querem a mesma coisa: quebrar com essa lógica injusta.
     Para Noam Chomsky, o ativismo é o caminho para ligar os pontos e perceber que tudo é fruto de uma única lógica."Se você voltar aos anos 60, os movimentos dos Direitos Civis e da Guerra do Vietnã começaram de maneira muito focada. 'Deveria ser permitido que negros pudessem andar de ônibus' e 'Nós não devemos mandar tropas para o Vietnã'. Essas são questões específicas muito estreitas - ainda que muito importantes. Mas dentro de alguns anos, se tornou um esforço para ganhar um entedimento crítico da maneira como todo o sistema econômico internacional e o sistema internos nos Estados Unidos funcionavam", disse Chomsky em entrevista à Punk Planet em 2000. Vemos claro aí que, na visão dele, primeiro as pessoas percebem os problemas e exigem sua solução, para depois entender que todos os problemas são fruto de como roda o sistema e daí surgir os gigantescos movimentos que realmente mudarão eficientemente a realidade, como foram os dois movimentos citados por Chomsky.

     Uma importante ferramenta de integração das pessoas que vejo hoje é a internet. A internet virou um espaço ideal para a manifestação livre de idéias e também para a discussão. Existem já vários blogs independentes, canais de videos no You Tube e comunidades virtuais. Os blogs são essenciais para que cada um possa expor sua visão de mundo e podem ser usados na contramão da ação da grande mídia, que tende a alienar as pessoas. A internet traz as visões mais diferenciadas e uma grande variedade de pontos de vista, já que qualquer um pode passar informação por ela, diferentemente das mídias tradicionais, monopolizadas por uma minoria. As comunidades virtuais são outra ferramenta vital, pois não há apenas a exposição de idéias, como a contraposição de pontos de vista - a discussão. Troca de idéias e argumentação coletiva. Temos pessoas das várias partes do mundo conectadas. Já existem fóruns de discussão sobre os mais diversos temas e assuntos. Segundo Pierre Lévy, por meio dessas comunidades caminhamos para uma Inteligência Coletiva:

     Isso tudo posto, tudo que me resta dizer é que as iniciativas de mobilização coletiva são um caminho mais do que válido para buscar um mundo melhor. Pense e faça os outros pensarem. Questione e faça os outros questionarem. Seja criativo. DIY now.

domingo, 2 de maio de 2010

incomunicação

    Atualmente, se acredita que a tecnologia proporcionou e irá mais ainda proporcionar ao homem uma comunicação mais eficiente. Interligando-se todo o mundo em tempo real, a informação já roda a uma velocidade inalcançável por todo o globo. Recebemos noticias dos lugares mais longínquos. Isso é realmente incrível e quebra fronteiras antes consideradas inquebráveis. Isso tudo é fato, mas isso tudo quer realmente dizer que a comunicação ficou mais eficiente?
    Vivemos a era da adoração a tudo que é tecnológico, de última geração. E nesse contexto, diversas teorias sobre a troca do real pelo virtual já foram criadas. Vende-se por aí que funções que emergem na internet um dia substituirão seu equivalente no mundo real. Isso é completamente mentira. Nunca que o virtual substituirá o real. O mundo real é o mundo em que vivemos, no espaço e tempo no qual estamos inseridos e são próprios do ser humano. O real é o mundo de verdade, o virtual é apenas um reflexo de um reflexo de um reflexo distorcido do que vivemos, com tempo e espaço intangíveis por nós.
     Por mais que interligue o mundo, não significa que a comunicação pela internet seja eficiente. Ela passa informação eficientemente sim, mas o conteúdo por ela passado permite uma comunicação muito mais ineficiente do que a realizada por duas ou mais pessoas em um quarto, por exemplo. No momento em que temos duas pessoas presentes no mesmo espaço é que é possível realmente uma comunicação de profunda complexidade e imenso resultado na criação de entendimento, compreensão e vínculos. O  imediatismo e minimalismo nos dados que viajam pela rede é gigantesco e isso gera facilmente a falha de comunicação ou, no pior dos casos, a falta total dela - a incomunicação. Muita informação roda, mas ela é toda passada por textos escritos, imagens, gravações de sons e videos - que são registros já subjetivos da realidade, que serão interpretados também subjetivamente. Isso posssibilita facilmente a má interpretação e o entendimento errôneo do que está sendo comunicado.
      Só na realidade é que o homem consegue atingir o maior grau de eficiência na comunicação, e, mesmo assim, várias barreiras de caráter subjetivo costumam entrar no caminho. No real se tem o máximo de qualidade de comunicação, só nele as pessoas se conhecem e criam vínculos. O corpo como um todo comunica - expressões faciais e corporais podem comunicar mais do que mil palavras ou 20.000 tweets (risos). Sentimentos e emoções só são realmente compartilhados no espaço real, pelo conjunto de sentidos que possuimos: audição, tato, olfato, paladar e visão. Além disso, só se enxerga e descobre a realidade estando nela, pois qualquer outra fonte já terá o ponto de vista de um terceiro envolvido, impedindo que você interprete o real por si mesmo e fazendo com que você enxergue a sua visão da visão que outra pessoa tem da realidade.
      A verdade é que o real é insubstituível. Trocá-lo pela internet é um erro tremendo, que estamos gradativamente cada vez mais cometendo. O tempo que se desperdiça hoje em redes sociais enquanto se poderia estar lá fora curtindo a vida real, conhecendo e se relacionando de verdade com outras pessoas só cresce. Você não conhece nem um milionésimo do que uma pessoa é apenas olhando um profile. A ineficiência comunicacional da mídia tecnológica é incalculável. Comunicar de verdade é mais do que apenas passar uma mensagem. É permitir que o outro te compreenda e conseguir compreender o outro. Nesse momento, criam-se laços reais e significativos.
      Por isso, precisamos evitar gastar horas do nosso dia no computador ou com qualquer outro meio eletrônico, como TV, rádio, etc. Devemos viver a realidade e a descobrir por nós mesmos. É muito fácil ser alienado quando você transforma a rede na sua principal fonte de informação, pois ela já é um registro subjetivo do real que irá, intencionalmente ou não, distorcer imensamente os fatos. Precisamos criar consciência disso e sair da fantasia de que a tecnologia é maravilhosa e perfeita. Comunicar-se com eficiência já é bastante difícil no mundo 3D, na web então...