sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

racional?

       O homem é um animal como qualquer outro. Mas, com certeza, algo o diferencia dos demais, já que os seres humanos têm a capacidade de pensar sobre o mundo e intervir nele de acordo com seus interesses, transformando a natureza e vivendo em sociedade, com uma organizaçao política e econômica. Somos seres racionais, que deixam de lado seus instintos para dar lugar à lógica, às ciências e às artes. Abdicamos do selvagem para viver de maneira civilizada, usando de nossas mentes para criar e inovar, buscando a melhor qualidade de vida para nós e entender ao máximo o mundo e o universo em que vivemos. Novas técnicas e tecnologias buscam facilitar nossas vidas. Queremos, cada vez mais, controlar mais o mundo em que vivemos para que ele esteja ao nosso dispor. E, em teoria, quanto mais próximo chegamos disso, mais evoluida a sociedade.
       Deixando de lado o papo de eco-chato de que tem que se respeitar a natureza e usar dela com responsabilidade e equilibrio... acredito que a ideia de melhorar a sociedade ao máximo por meio da busca de controle do mundo de que o homem moderno inicialmente partiu para o que temos hoje é um tremendo paradoxo. Sim, a tecnologia evoluiu para patamares nunca antes imaginados, a medicina está ficando inacreditável e a internet revolucionou nossa forma de viver de uma maneira inexplicável, mas, no geral, a vida da sociedade está melhor? A resposta é não. Vivemos em um mundo em que a maioria da população é pobre ou miserável. Temos a tecnologia de ponta que nos permite quase tudo aí, mas quantas pessoas têm acesso a ela? Muito, mas muito poucas. A desigualdade sem tamanho que enfrentamos impede a sociedade de melhorar. Tudo porque o sistema em que hoje estamos inseridos é injusto e ele é injusto porque o homem acabou por construi-lo assim.
        Aquilo que nos distinguia dos demais animais parece ter sido colocado de canto pelo homem no decorrer da história. Abusamos de nossa racionalidade para criar, mas não a usamos para pensar no próximo, pensar no mundo como um todo. Durante o processo de desenvolvimento da tecnologia, o ser humano agiu como um selvagem. Foi criando e criando,  mas usando de suas criações apenas para o beneficio próprio, não pensou nos outros, mas usou dos outros como alavanca para seu cada vez maior enriquecimento. Passou a, além de dominar a natureza, dominar os outros seres humanos, buscando chegar ao topo da cadeia e se tornar o mais poderoso. É isso que tornou e torna o mundo desigual como é, uma mentalidade individualista materialista. A ganância cegou a racionalidade do homem o levando a submeter sua própria espécie e o capitalismo se tornou selvagem, um capitalismo sem fronteiras que passa por cima de tudo e todos. Não evoluimos em nada.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

do underground para o mainstream

        Pegue o cd mais recente de uma banda de rock reconhecida internacionalmente que lota estádios pelo mundo todo. Agora pegue o cd mais recente de uma banda de rock (de preferência um gênero de rock similar ao da anterior) desconhecida, independente que toca no barzinho da esquina por uns trocados. Compare os dois. A primeira diferença que você notará é na produção, na qualidade das gravações e na limpeza do som. Obviamente, a primeira banda tem muito mais grana e é vinculada a uma puta de uma gravadora e um produtor musical fudidos, logo dará de dez a zero nesses atributos. A segunda terá som de garagem, poluido e mal acabado. Até aí beleza, não é isso que vai determinar que banda é melhor. Seguindos pelas faixas dos dois álbuns, você encontrará a principal caracterítisca que distinguirá os dois sons: os elementos pop.
        Os álbuns de uma grande banda de rock de sucesso tendem a ter algumas faixas mais melódicas, leves, numa levada calma e de fácil digestão. Em paralelo, uma banda do cenário underground tende a manter o som pesado durante todo o álbum porque, afinal de contas, eles são uma banda de rock e esse é o som deles! O motivo pelo qual bandas famosas mundialmente tendem a soar mais pop é simples. O pop, como já diz o nome, é um som popular. É um som que acaba por agradar o público em geral por ser de fácil assimilação.  E os conjuntos que estão no mainstream, com alta divulgação na mídia, fazem músicas desse gênero para abranger um maior número de pessoas e, com isso, ganhar mais dinheiro. O processo acontece mais ou menos assim: uma banda desconhecida ao, por alguma razão como esforço próprio, conseguir fazer um pouco mais de sucesso e se destacar, atrae os olhares das gravadoras. As gravadoras de cds notam um talento ali, algo que cai no gosto dos fãs, e caem em cima da banda de roqueiros que não têm onde cairem mortos com contratos milionários com zeros que não acabam mais. Ao assinar esse contrato, a banda cai na mão da gravadora e é obrigada a mudar milhares de coisas, como por exemplo deixar o som mais pop para aumentar a legião de fãs e deixar a gravadora ainda mais rica. Nesse exato momento, a banda passa do underground para o mainstream.
        Não são todas as bandas que aceitam se vender dessa forma para o sistema, por assim dizer. Muitas veem isso como ir contra seus valores subversivos e alimentar a cruel máquina capitalista, outras não pensam nem duas vezes - também, os caras nunca viram tanta grana na vida! O fato é que muitas entram no barco e, tentando ganhar público para as gravadoras, acabam por perder seus fãs mais radicais. O Dire Straits já dizia "Get the money for nothing and get chicks for free", criticando a atitude de vender "sua alma" por dinheiro. Eu concordo em parte porque, como tudo, a história tem dois lados. Se por um lado os questionadores do sistema passam a alimentá-lo - é, o rock acabou virando uma máquina de dinheiro nas mãos das empresas - por outro, temos divulgadas excelentes bandas antes escondidas. Sim, os caras mudaram um pouco o som, viraram pop, mas ainda assim ainda continuarão fazendo músicas mais rock n' roll e de inquestionável qualidade, porque nem eles nem a gravadora querem perder o público inicial  e porque foi com esse som original que eles se destacaram na multidão e alcançaram os grandes palcos. Istoé, a banda pode ficar mais pop, mas nós passamos a ter músicas questionadoras com enlouquecedores riffs agora no mainstream - já que o som antigo é em parte mantido. Em consequência disso, muito mais gente terá acesso a esse tipo de som e mais gente vai querer fazê-lo. Quanto mais difundido o rock, melhor. Temos mais gente criando e recriando em cima daquilo e mais gente questionando e criticando da mesma forma que fazem as letras das músicas. E essa ampla difusão só o mainstream permite. Um estilo musical preso no underground, por mais que não contribua com as grandes empresas, fica desconhecido pelas pessoas. A verdade é que o mainstream é que movimenta música.
       Não vou negar que me revolta baixar o cd de uma banda que eu adoro e encontrar musiquinhas deprê ou felizes demais que dão vontade de vomitar no meio.  Mas o mainstream é que permite aos gêneros explodir e serem conhecidos mundialmente. Sem ele, não se conheceria o rock mundialmente e, por isso, suas vertentes nunca virião a existir, não teriamos punk, grunge ou mesmo qualquer tipo de rock brasileiro. É uma pena que se pague um preço tão caro pela fama, o preço de tudo no capitalismo: contribuir com a terrível lógica materialista em que vivemos. A parada é séria, as bandas passam de rebeldes a escravos das gravadoras. É uma ironia, até mesmo porque eles passam a ser rotulados como "astros do rock", quando na verdade se tornam prisioneiros do pop. Não queria colocar as gravadoras como vilãs, até porque elas estão inseridas em todo um sistema e também não se pode generalizar! Mas o que elas, no geral, querem é fazer mais e mais dinheiro com a banda e acabam a transformando em um negócio, como tudo no capitalismo. A culpa não é delas, mas da lógica em que vivemos e da mentalidade que temos incrustrada nas nossas mentes. E os musicos também estão presos a essa lógica, todo mundo no fundo no fundo quer uma vida melhor. As bandas que não se vendem são nobres pois se opõe na prática a essa lógica, conservando a qualidade de seu som por completo. Porém, se nenhuma banda se entregasse à fama...a música não se espalharia mundo afora, o que é algo necessário para o bem da música, mesmo que se entregar ao mainstream contribua para tantos outros males... É a forma de mover a música hoje, é o caminho principal e certeiro da difusão na atualidade. Alternativas existem, mas  sua eficácia é rara, as bandas que conseguem subir ao topo de outras formas são escassas. Estamos ainda dependentes da grande mídia para a grande divulgação. A internet seria a principal alternativa, já que a circulação de informação é livre e global, mas a quantidade de coisa é tanta, que sua banda acaba perdida na multidão, conhecida pelos poucos que por acaso toparam com ela no meio do imenso mar da net
        Mudar essa lógica, só mudando o mundo. Bora?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

a guerra e o dinheiro

       No post anterior, falei do uso da mídia na alienação e manipulação das pessoas. Isso se dá, pois os grandes meios de comunicação estão nas mãos dos grandes empresários. Dessa forma, há uma parceria da indústria de bens de consumo com a indústria do entretenimento, que lucram gigantemente ao transformar a população em expectadores passivos que consomem e trabalham - alimentando o sistema. Não é nos deixado tempo ou dado espaço para refletir, o que nos mantém sob controle e fiéis ao modelo atual, já que não enxergamos as raízes dos problemas e a possibilidade de mudança do quadro atual. Consumimos acreditando em um mundo imutável. Mas, como já falei e refalei por aqui, isso não é verdade. Nada que nos é imposto é imutável, mas fruto de um processo que tornou o mundo como é hoje, podendo, assim, ser alterado. Juntos nós podemos muito, o povo injustiçado é a maioria. 
       Dentro da indústria de bens de consumo temos os mais diversos produtores das mais diversas mercadorias, entre os quais a indústria bélica. A indústria bélica foi no século XX e ainda é hoje uma das mais lucrativas, senão a mais lucrativa nos EUA e no mundo. Os fabricantes de arma têm um papel fundamental na movimentação de toda a economia mundial. Por isso, esse é um setor da indústria que todos os poderosos, assim como o governo norte-americano, querem preservado. Se as fábricas repentinamente fechassem, teríamos um súbito rombo na economia, uma quebra no sistema e uma redução muuuuito mais do que significativa nos lucros dos que hoje estão no topo da pirâmide, provavelmente levando a uma crise mundial. Logo, um mundo sem guerras seria um mundo muito menos lucrativo.
        Podemos concluir a partir desses fatos que a paz mundial não chegaria nem perto de alimentar a imensa ganância de grande parte dos grandes empresários. E, acreditem ou não, eles querem que sempre haja guerras. O próprio governo norte-americano, que alega guerrear em busca de um mundo mais civilizado, menos conflitante e totalmente pacifico, precisa da guerra para manter sua economia entusiasmada e entupida de capital rodando. Por isso se tem tanta guerra no mundo. Não é apenas porque o ser humano diverge nas mais diferentes questões, mas porque a guerra dá dinheiro. Os motivos para as guerras são, na maioria das vezes, desculpas para se continuar fazendo dinheiro. Os EUA estão sempre à procura de novos inimigos com quem guerrear. E percebam que as guerras atuais nunca são travadas em território estadunidense - deixando-os intactos. Com o fim da Guerra Fria, trocaram-se os comunistas pelos árabes. Uma vez dizimado o Oriente Médio, a grande potência mundial terá que achar novos adversários. 
        E essa lógica é o cúmulo da desumanidade hoje. A mídia vende a guerra como necessária para nós, enquanto na verdade na maioria das vezes é um pretexto para se continuar fabricando material bélico. Vidas e mais vidas são perdidas todos os dias para que a indústria bélica se mantenha ativa. É um absurdo sem tamanho! E só mostra como o mundo de hoje está inacreditavelmente horrível. A que ponto chegamos? Extrapolaram-se todos os limites do certo e errado, tudo por causa de pedaços de papel chamados de dinheiro. O homem chegou a um ponto em que a mentalidade materialista tomou conta além do imaginável, o impedindo de enxergar a cruel desumanidade de seus atos. A lógica capitalista prendeu a todos e a mídia que os poderosos usavam para cegar aos outros já cega a eles mesmos. Eles não conseguem mais viver sem todo esse lucro, sua mente não suporta parar de ganhar mais, mais e mais. Istoé, acabamos todos, até aqueles que incialmente tinham o controle, consumidos pelo sistema e pela mentalidade do "ter". A verdade é que estamos TODOS cegos, alimentando o mais vil, diabólico e sádico sistema que se pode imaginar. 
      Aqueles que enxergam precisam abrir os olhos dos outros. Precisamos lutar contra a corrente, ir na contra-mão da manipulação midiática e da mentalidade materialista. É hora de abrirmos os olhos para a loucura que é o mundo de hoje e usar as ferramentas que temos ao nosso dispor para reverter a situação. Pensar no humano, em uma realidade mais justa e, juntos, conquistarmos um novo mundo, quebrando com o atual. É uma tarefa mais do que árdua e até mesmo abstrata, mas se cada um fizer algo para tentar mudar - dar uma contribuição - podemos chegar longe. Pense, discuta, faça.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

sem espaço para refletir

       Refletir, enxergar e pensar a realidade parece ter se tornado pecado. Quando não estamos trabalhando ou comprando, nosso tempo livre é ocupado pelas várias formas de entretenimento que temos hoje em dia. Não resta tempo para pensar. Todo dia, a grande maioria da população ocidental chega exausta do trabalho e vai logo se jogando no sofá para assistir TV. E na TV aberta, especialmente a brasileira, são raros os programas inteligentes e é minima a minoria que os assiste. Formas de distrações baratas acessam nossas mentes trazendo um mundo de ilusão e tapando nosso olhos da cruel realidade. Depois disso, os telespectadores desmaiam de sono e só abrem de novo os olhos na hora de ir trabalhar. É assim que a mídia trabalha para impedir que paremos e pensamos no mundo.
        Além do entretenimento, temos a parte informativa - os telejornais, o jornal escrito e os sites de notícias - que deformam a informação conforme lhes é de melhor serventia ou simplesmente as repassam como recebem das grandes agências de notícias que hoje monopolizam a maior parte da informação, organizações que distribuem informação mundialmente com a desculpa de serem consideradas as únicas fontes "seguras". As notícias são dadas sem dar espaço para que se reflitam sobre elas, sendo absorvidas igualzinho a todos os outros programas televisivos. O que agrava a situação é que a maioria das pessoas só tem acesso ao telejornal. Sim, existem bons jornais escritos que trazem opiniões diversificadas e até propostas reflexivas, mas a maioria da população não os lê. Existem também inúmeras boas fontes de informação na internet, mas, dos poucos que hoje tem acesso à web, é ainda menor a parcela que não se perde no turbilhão de informações e não acaba se restringindo aos sites grandes, os quais emitem as mesmas notícias mastigadas da televisão. A internet é um universo amplo, mas dificil de filtrar.
        Sem reflexão, não há uma percepção de como, quanto e por que a realidade está tão injusta e desumana. E sem que se percebam os milhares de problemas que tomam nossa sociedade, a imensa desigualdade na qual estamos imersos e a razão de tudo isso, as pessoas acabam passivas, apenas contribuindo e alimentando o desequilibrio, consumindo e trabalhando. Só no momento em que a grande maioria tiver o tempo e o espaço para refletir é que se poderá haver a busca por mudança, a quebra desse sistema falho e a criação de um mundo mais justo. A mídia é fundamental na manutenção do terrível contexto mundial em que vivemos. O importante é tentar ter um olhar crítico diante dela, perceber que aquilo exposto nos jornais é apenas um ponto de vista. Aquilo não é a verdade, a verdade absoluta não existe.